Abolicionista baiano Luiz Gama recebe da OAB o título de advogado

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Vendido pelo próprio pai aos dez anos, Luiz Gama como advogado autodidata  libertou mais de 500 escravos

Um dos mais importantes abolicionistas da história, que exerceu a profissão de advogado mesmo sem nunca ter sido reconhecido com um, recebeu nesta terça-feira, dia 3 de novembro, uma homenagem póstuma. Em cerimônia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Luiz Gama ganhou da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), 133 anos após a sua morte, o título de advogado. Uma homenagem mais do que merecida no mês em que comemoramos a importância da Consciência Negra.
Luiz Gonzaga Pinto da Gama tornou-se o arauto da libertação dos negros e da luta contra a opressão. Jornalista, poeta, membro da maçonaria e fundador do Partido Republicano Paulista, Gama morreu em 1882 tendo libertado, nos tribunais, mais de 500 negros. No livro Luiz Gama (120 p., R$ 26,40), quinta biografia da Coleção Retratos do Brasil Negro, da Selo Negro Edições, lançada em 2010, o professor Luiz Carlos Santos revela a trajetória de uma das personalidades mais importantes do século XIX no Brasil imperial e escravista, destacando sua atuação pioneira como abolicionista e intelectual. “Trata-se de uma biografia singular que articula luta com inteligência”, revela o autor. Para ele, Gama foi o pai da negritude brasileira e manteve firme o princípio que norteou toda sua vida.
A biografia traça o perfil de um jovem negro, autodidata, profundo conhecedor das letras e das leis, radical na luta pela liberdade e pelos ideais republicanos, em um império escravocrata. Incansável agitador das causas negras, Gama foi perseguido e ameaçado de morte. Para o autor, seu espírito de superação fortaleceu a atuação abolicionista. “Sua vida é uma forte referência para a nossa história e permite uma releitura da história do Brasil”, complementa. E deverá ser, diz ele, uma das grandes contribuições à luta pela equidade.
Dividido em três capítulos e um anexo, o livro aborda a vida do abolicionista desde a infância, passando pela escravidão e a luta pela liberdade, que adotou como projeto de vida, com atuação intensa nos tribunais, na imprensa, na literatura e na política. A biografia mostra o menino negro que nasceu livre, em Salvador, na Bahia, foi vendido como escravo aos dez anos pelo próprio pai e na juventude aprendeu a ler e tomou ciência de sua condição de homem livre. “A vida de Gama sugere, sem dúvida, um filme de enredo original e capaz de romper os paradigmas do cinema nacional da favela trágica”, afirma o autor.
Para redesenhar o perfil de Luiz Gama, o professor percorreu caminhos sutis e cheios de atalhos. Negro alfabetizado aos 17 anos e livre aos 18, por conquista própria, Gama transformou-se em um símbolo da luta abolicionista e republicana. Resultado de extensa pesquisa, incluindo a carta autobiográfica escrita para o amigo Lucio de Mendonça, que tem sido objeto de estudos e interpretações diversas, a obra mostra que Gama também fez da literatura espaço de militância.
Gama foi um dos maiores articuladores políticos que o Império conheceu. A biografia aborda seus grandes feitos na luta pelo fim da escravatura, destacando sua atuação, em São Paulo, como advogado, na libertação dos negros; suas denúncias, na imprensa, dos acordos para a manutenção do trabalho escravo; e seus poemas ácidos, que satirizavam e, ao mesmo tempo, expunham as mazelas do poder imperial e dos senhores de escravos.
Enxergando além de seu tempo, Gama não separou o social do racial e combateu tanto a escravidão quanto a monarquia. A obra mostra que ele vislumbrou na República o nascimento da igualdade e da liberdade numa perspectiva cidadã. “Pensando assim, participou dos setores mais progressistas de sua época”, complementa o autor.
Além da condecoração póstuma, o evento Luiz Gama: Ideias e Legado do Líder Abolicionista prevê dois dias de palestras e debates no Mackenzie. Após o título simbólico de advogado, o Instituto Luiz Gama pretende solicitar que a seccional paulista da OAB confeccione uma carteirinha de afiliado em nome de Gama – e que a mesma fique exposta no Museu Afro Brasil.

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